Doença de Chagas

No dia 14 de abril de 1909, o cientista Carlos Chagas encontrou o protozoário Trypanossoma cruzi no sangue de uma menina febril de dois anos de idade.

Além do agente causador, o cientista também identificou o agente transmissor (o barbeiro) e o modo de transmissão da enfermidade que passaria a ser conhecida mundialmente com o seu próprio nome (doença de Chagas).

O pesquisador imediatamente comunicou Oswaldo Cruz, na época diretor do então Instituto de Manguinhos, no Rio de Janeiro.


                              Carlos Chagas e Osvaldo Cruz (respectivamente)



Pouco mais de uma semana depois, em 22 de abril, ao mesmo tempo em que a revista Brasil Médico trazia em suas páginas a descoberta feita em Minas, o feito foi comunicado, em sessão da Academia Nacional de Medicina, por Oswaldo Cruz, que leu um trabalho escrito por Chagas. O cientista estava no norte de Minas promovendo uma campanha contra a malária que atingia operários que trabalhavam na construção de um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil.

O feito de Chagas é considerado único na história da medicina. E a palavra "cruzi" no nome científico do parasito, também descoberto por Chagas, foi uma homenagem a Oswaldo Cruz.

A doença de Chagas é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, e transmitida por insetos, conhecidos no Brasil como barbeiros (da família dos Reduvídeos - Reduviidae), pertencentes aos gêneros Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus.O Trypanosoma cruzi é um membro do mesmo gênero do agente infeccioso africano da “doença do sono” e da mesma ordem que o agente infeccioso da leishmaniose, mas as suas manifestações clínicas, distribuição geográfica, ciclo de vida e de insetos vetores são bastante diferentes.


Os sintomas da doença de Chagas podem variar durante o curso da infecção. Nos primeiros anos, na fase aguda, os sintomas são geralmente lentos, pouco mais do que inchaço nos locais de infecção. À medida que a doença progride, durante até cinquenta anos, os sintomas tornam-se crônicos e graves, tais como insuficiência cardíaca e desordens do sistema digestivo. Se não tratada, a doença crônica é muitas vezes fatal. Os tratamentos medicamentosos atuais para esta doença são pouco satisfatórios. Os medicamentos tem efeitos colaterais significativos e são, muitas vezes, ineficazes, em especial na fase crônica da doença. Pacientes em estado grave são muitas vezes encaminhados ao transplante cardíaco, porém não há cura para a doença.

A doença tem uma fase aguda, de curta duração, que em alguns doentes progride para uma fase crônica. Dentre os sintomas possíveis na fase aguda estão:

* Febre;
* Mal-estar;
* Inflamação e dor nos gânglios linfáticos;
* Vermelhidão;
* Inchaço nos olhos;
* Aumento do fígado e do baço;
* Problemas cardíacos.

Porém a fase aguda é geralmente passando despercebida, motivo pelo qual é tão difícil fazer a prevenção adequada de Chagas. A incubação dura de uma semana a um mês após a picada. No local da picada pode-se desenvolver uma lesão volumosa, local eritematosa (vermelha), inflamação e dor nos gânglios e edematosa (inchada). Se a picada for perto do olho é frequente a conjuntivite com edema da pálpebra, também conhecido por “sinal de Romaña”. Raramente ocorre também infecção da meninge. Entre 20 a 60% dos casos agudos se transformam, em 2 a 3 meses, em portadores com parasitas sanguíneos continuamente, curando-se os restantes. No entanto, em todos os casos param os sintomas após cerca de dois meses. Muitos, mas não todos, os portadores do parasita desenvolvem sintomas devido à doença crônica.

O caso crônico permanece assintomático durante cinco a trinta anos. No entanto neste período de bem-estar geral, o parasita está a reproduzir-se continuamente em baixos números, causando danos sérios a órgãos como baço, intestino, sistema nervoso, coração, e causa também pequenos danos no pulmão. O fígado também é afetado mas como é capaz de regeneração, os problemas são raros. O resultado é apenas aparente após uma ou duas décadas de progressão, com aparecimento gradual de demência (3% dos casos iniciais), cardiomiopatia (em 30% dos casos), ou dilatação do trato digestivo, conhecidas como megaesófago ou (6% dos casos iniciais), devido à destruição da inervação e das células musculares destes órgãos, responsável pelo seu tónus muscular. No cérebro há frequentemente formação de granulomas(é a formação de uma estrutura microscópica que se assemelha a um grânulo). Neste estágio a doença é frequentemente fatal, mesmo com tratamento, geralmente devido à cardiomiopatia (insuficiência cardíaca). No entanto o tratamento pode aumentar a esperança e qualidade de vida.

Há ainda,com pouca frequencia, casos de morte súbita, quer em doentes agudos quer em crônicos, devido à destruição pelo parasita do sistema condutor dos batimentos no coração ou danos cerebrais em áreas críticas.

* Ciclo de Vida do Agente Causador



* Ciclo do Trypanossoma cruzi

Ainda não há vacina para a prevenção da doença. A prevenção está centrada no combate ao vetor, o barbeiro, principalmente através da melhoria das moradias rurais a fim de impedir que lhe sirvam de abrigo. A melhoria das condições de higiene e a limpeza frequente das palhas e roupas são eficazes. Uma forma possível de prevenir as complicações dessa doença é sendo um doador de sangue regular, pois nas áreas endêmicas fazem gratuitamente o exame para identificar Chagas em todas amostras coletadas e enviam uma carta nominal com os resultados.

Basicamente, a prevenção se dá pela eliminação do vetor, o barbeiro, por meio de medidas que tornem menos propício o convívio deste próximo aos humanos, como a construção de melhores habitações, pois este inseto vive nas frestas das casas de pau-a-pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos e sob pedras. Existem também bloqueadores para o parasita, ao ir a lugares que possam possuir o barbeiro, tome um banho de gelatina sem sabor ainda mole. Isso impedirá o protozoário de entrar na corrente sanguínea, assim não contrairá a doença, ficado imune a mesma durante um período de tempo razoável, cerca de 2 dias.

O uso do inseticida extremamente eficaz mas tóxico DDT está indicado em zonas endémicas, já que o perigo dos insetos transmissores é muito maior.

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